Verdades e Devaneios

Friday, April 18, 2008

O Último Pagode em São Gonçalo

Que sol é esse, maluco? Num to guentando isso não. Inda tenho que levar esses menino na casa da Shirley antes de correr lá pra casa da patroa.
Hoje vou caprichar na faxina. Tô que tô feliz. O Uanderson me jurou que, hoje à noite, a gente vamo num lugar aí de bacana. É que ele juntou o mês inteiro os trocado que ele ganhou extra no serviço dele. Vou mandar a real. Uanderson é cobrador de ônibus né, e ele sempre fica devendo os dois centavo do troco lá pros passageiro dele. Aí, chega fim de mês e a gente aproveita né. Dá até pra ir num boteco comê uns petisco e dançá um pagodinho e depois a gente ainda vamo num motelzinho que tem ali no Laranjal.
Eu tô que tô. Ontem aproveitei minha folga e fui no Piscinão aqui de São Gonçalo com os menino. O Uanderson tava trabalhando. Eu fui porque precisava passar o blondo nas perna e nos braço porque o Uanderson gosta dos pêlo tudo loirinho. Até lá naquele lugar ele gosta quando eu pinto, mas não posso fazer isso mais não porque dá última vez me deu alergia. Bem, hoje à noite a gente vai curtir né. Ele disse que a gente ia começar no pagode e terminar no sacode. Quero só ver.
Dona Ana, já cabei a faxina. Deixa eu ir porque o Uanderson tá me esperando. Dona Ana, posso tomar banho no seu chuveiro? É que tenho que sair daqui arrumada já e, com esse calor, tô suada pra cacete. Tenho que tá no ponto do busu às 17:27 que é quando o ônibus do Uanderson passa aqui na porta do prédio, aí eu entro sem pagar passagem. Eu vou com o Uanderson até o ponto final, aí a gente já aproveita e fica ali no Bar do Pagodinho que é ali do lado.
Ai, Uanderson, cansei do pagode. Vambora lá pra farra, meu nêgo gostoso?
Ai, Uanderson, vai, vai, vai, não pára. Isso, tesão.Vai Uanderson. U-H-U-L-L. Continua, Uanderson, isso, vai, ui.O que??? O quê, Uanderson??? Do que você me chamou??? Gracielly??? Mas, Uanderson, meu nome é Lucilene. Uanderson, nós nos conhecemo desde os 13 ano, já temo sete menino se criando e você troca meu nome??? Quem é essa tal de Gracielly, Uanderson?
Bem que a Shirley me falou que te viu lá no Castelão outro dia com uma vagaba loira. E eu sei que tu se amarra numa oxigenada aguada, mas a burra aqui num acreditou na Shirley né. Falei pra ela que tu tava no busu trabalhando. Quer saber? Ta tudo acabado entre nós, Uanderson. Já era. Já foi. Perdeu, cara. Tu vacilou legal comigo, mané. Eu sou muito mulé pra aceitar uma coisa dessas. Porra, tá querendo ficar com duas, maluco? Pára com isso. Num gosto de sacanagem assim não.Acha que pode ficar de putaria por aí. Tem que ser homem de uma mulher só, seu viado. Respeito é bom, tu sabia? Vai te catar, seu desgraçado. Eu devia te capar, Uanderson, teu filho da puta. Porque tu fez isso comigo, caralho?
Ih, Uanderson, fudeu. Falei pra tu que só podia ficar contigo até as nove, porra. Já passa das dez. A Shirley já deve ter levado os menino lá pra casa e o otário já deve tá cansado de me esperar. Num sei como ele acredita que os muleque são filho dele. Tou ajuntada com ele já tem um tempão né, Uanderson, e ele nem desconfia. Vambora, Uanderson. Tem como me colocar num busu aí sem eu pagar a passagem?


Da Série Ódios Expressos, escrito em 2007 pro Mico na rede

Thursday, July 27, 2006

Humor Multimídia

Quem gosta de rir e ver coisas interessantes, vai uma dica
www.miconarede.blogspot.com ou www.omiconarede.com

Não é apenas mais um site de humor.
É um site de humor com arquivos em texto, áudio e vídeo.
Muito legal.

Saturday, May 06, 2006

Aconteceu no Cinema

Cheguei bem antes da sessão começar.
Bilheteria fechada.
Um anúncio alertava para um pequeno problema no ar condicionado.
O calor era excessivo, mas pouco me importei com o que acabara de ler.
Uma voltinha pela galeria até que pudesse comprar meu ingresso.
Bilheteria aberta.
Comprei uns chocolates e entrei na sala de projeção.
Ao meu lado um jovem casal na flor de seus mais ou menos 65 anos.
Conversavam numa língua estrangeira.
Falavam tão alto que não ouvi-los era uma missão impossível.
Ouvia, então, atentamente, tentando decifrar o que diziam, mas...
Por mais que goste e conheça outros idiomas não identificava por nada em que língua falavam.
Primeiro pareceu-me inglês, mas tinha um leve sotaque francês.
Às vezes ouvia algumas palavras no nosso português, o que me fez pensar que conversavam em russo. Pra mim essa possibilidade parecia bem razoável.
Alemão, tive certeza, mas logo mudei minha opinião.
Definitivamente, tive de admitir, não soube de forma alguma identificar o idioma.
Que frustração... sempre gostei de idiomas e achava-me, até então, capaz de ao menos conhecer pela sonoridade cada um, contudo...
Uma moça chamou-me a atenção. Estava à minha frente. Sozinha, assim como eu. Não é tão incomum ir ao cinema sem companhia.
Ela se mostrava bastante inquieta, não conseguia acomodar-se na poltrona. Percebi que tinha algo errado.
Levantou-se, chamou uma funcionária.
Reclamava da “sauna”... A sala estava muito quente realmente, abafada.
Lembrei do anúncio sobre o defeito do ar condicionado...
É, acho que o clima de 40ºC lá de fora estava mais agradável. O calor era de incomodar, mas a mim nem tanto pois estava tão entretida com a conversa dos velhinhos...
A moça fez questão de que a funcionária sentisse o vapor, digo, o calor. Gestos de que nada poderia ser feito. A moça, então, pegou sua bolsa e se retirou.
Pensei que ela voltaria.
Mas o filme começou..
O som da história confundia-se com o som pronunciado por aquele jovem casal..
Exatamente. Mesmo com o início do filme a conversa não parou.
Grande dilema. Não sabia se mantinha a atenção na conversa ou no filme...
O filme ganhou, lógico. A conversa agora me atrapalhava, aliás, já estava me irritando.
Finalmente relaxei e me entreguei à história, na angústia do personagem, no drama de um roteirista para adaptar uma obra sobre orquídeas para o cinema.
Grande desafio!
Muitas reviravoltas.
Fim do filme.
Os velhinhos ainda falavam, mas já não me importava tanto com eles, quer dizer, o que a princípio soava-me interessante, levou-me ao arrependimento de ter sentado ali.
Olhando para frente, notei que a tal moça que se queixara do calor não havia retornado. Não agüentou mesmo a “sauna”. Uma pena, perdeu o filme.
Fui embora, afoita por respirar o ar puro da rua, digo, afoita por sair daquela sala abafada.
Chateada com os velhinhos que perturbaram bastante, mais chateada ainda pela dúvida, afinal, em que língua falavam?
E que fim levou a moça que não gosta de sauna?
Fui embora satisfeita com o filme.


PS: Só uma curiosidade: Essse textinho foi escrito há três anos... Ainda não sei se foi mesmo verdade ou mero devaneio...

Wednesday, March 08, 2006

Só pra dizer...

Não poderia deixar passar esta data em branco, mas também não queria ser piegas ou clichê demais e ficar aqui exaltando as mulheres.

Parabéns a todas as minhas amigas, não por serem mulheres, mas por me entenderem e por gostarem de conviver comigo!

Parabéns a qualquer pessoa que seja exemplo de superação, não importa se homem ou mulher.

Thursday, February 23, 2006

Dinâmica de grupo: você ainda vai enfrentar uma.

E vai começar a batalha. Os participantes se preparam para guerra. Estabelecem estratégias, tomam suas posições e é hora do combate.
Assim são as dinâmicas de grupo. Se você ainda não enfrentou uma, não se preocupe, sua vez vai chegar.

É hoje o dia. Você acorda animado e disposto. Escolhe sua melhor roupa, olha-se no espelho umas mil vezes até que pensa: “Tô legal!”. Importante também é a alimentação. Você come tudo o que tem direito, afinal, precisa estar forte para derrubar seus adversários. Assim sai de casa e vai à luta.

Mas talvez você seja um outro tipo de pessoa. Vamos então ao seu caso...

É hoje o dia. Você passou a noite em claro só pensando nesse momento. Na verdade, a idéia da dinâmica tanto te assustava que relaxar era tarefa impossível. Nos poucos momentos em que conseguia fechar os olhos, tudo que lhe vinha à mente eram fantasmas e preocupações. Até conseguia sonhar, mas seus sonhos era pesadelos. Sonhava que perdia a hora, que um acidente ocorria no caminho, que tinha uma crise de pânico durante a entrevista e daí para pior. Você acorda estressado e tenso. Tenta escolher a melhor roupa, olha-se no espelho e pensa: “Sou um fracassado!”. Sabe que alimentação é importante, mas não consegue comer, não tem apetite e está demasiadamente enjoado. Assim sai de casa e vai à luta.

Você chegou no local da dinâmica. Não importa agora qual tipo de pessoa você é. A partir daqui o comportamento de todos é bem semelhante.

Você olha para cara de seus concorrentes. Analisa todos da cabeça aos pés. Tenta adivinhar o que eles estão pensando. Começa a perceber os seus defeitos (ver os defeitos alheios é ótimo quando você quer sentir-se superior). Mas nota também qualidades que saltam aos olhos (aí fica perigoso, ver as qualidades alheias é ótimo para te fazer sentir-se inferior.)

Você e seus oponentes são chamados até a sala da dinâmica. Agora é tudo ou nada. Você entra naquele lugar apertado, com aquelas cadeiras dispostas em círculo e escolhe a que te parece “ a cadeira ideal” e senta. Se você for um pouco lento para escolher, senta na cadeira que sobrar mesmo.

E vai começar a batalha. Os participantes se preparam para guerra. Estabelecem estratégias, tomam suas posições e é hora do combate.

Começam as apresentações. Cada um fala sobre si, do que gosta, de suas experiências. Uns inventam, outros falam somente a verdade, alguns exageram um pouquinho. Tem também aqueles que contam coisas “sem noção” como sua história de infância, relação com os priminhos, do que gostava de brincar, das excursões escolares. Você escuta aquilo tudo e não entende onde a pessoa quer chegar. Você fica com “cara de interrogação” pois nunca ouvira tanta inutilidade numa única oportunidade.

Chega sua vez. Você fala o que acha relevante. Talvez as outras pessoas também fiquem com “cara de interrogação” ao te ouvir. Talvez também pensem que tudo que você fala é inútil. Você está um pouco nervoso. Se você foi daqueles que acordou animado e disposto, você consegue dominar seu nervosismo. Se você não dormiu, não comeu com medo do “bicho papão”, seu nervosismo é que domina você. Mas até que você consegue terminar sua explanação, mesmo com uma gagueira chata e leves tremores de braços e pernas.

Acabou. Você sai. Talvez esteja até amiguinho de algum adversário. Pega o mesmo ônibus que ele. Conversa um pouco e quando ele desce e toma seu rumo, você pensa: “Coitado, esse aí não passou!”.

Depois que tudo acaba você percebe como aquilo é engraçado. Um querendo aparecer mais que o outro, um querendo passar por cima do outro. Um falando mais inutilidade que outro. Um querendo enganar o outro.

Mas isso não é engraçado não. Isso é triste. O ser humano é mesquinho e egoísta. E é em uma dinâmica de grupo que ele mostra seu lado mais sombrio. Mas é difícil percebermos isso. Difícil admitirmos a hipocrisia do homem.

Espero que você perceba a sua e tente evitá-la. E desejo-lhe boa sorte em sua dinâmica de grupo.

Thursday, February 09, 2006

Roda mundo, roda gigante...

São muitas as matérias que têm sido publicadas sobre crianças abandonadas pela mãe pouco após o nascimento. São bebês em sacos plásticos, em lagoas, valões, estacionamentos, portas de Hospitais. Parece que está na moda. Mas isso sempre aconteceu. Antigamente as crianças eram deixadas na “Roda”. Esta tal “roda” era isso mesmo, uma roda. Era uma roda que ficava na parede de um orfanato. A mãe girava a “roda” e colocava a criança ali dentro, aí girava novamente e a criança ia parar do lado de dentro do orfanato e a freira tirava a criança desta “roda”. Simples assim. A criança estava abandonada.
No Rio de Janeiro há uma escola municipal cujo prédio já teve uma dessa “rodas”. Fica no bairro do Flamengo. Hoje, lá, além da escola funciona uma instituição para crianças carentes, um lar de freiras ainda.
Na verdade, não está na moda abandonar crianças, mas está na moda divulgar essa prática. Ainda não sei o porquê.

Thursday, January 12, 2006

A afinidade ainda estava lá

É impressionante como a vida passa e como as pessoas passam pela nossa vida.
Pode parecer clichê, mas uma das coisas que mais valorizo é a amizade. Pena que, por culpa das circunstâncias sempre somos afastados de nossos amigos por mais que digamos que não ou por mais que lutemos para que isso não aconteça.
Era só mais um dia. Só mais um compromisso a cumprir. Ao sair de casa não poderia imaginar o que estava por vir.
Foi estranho. Uma mistura de emoções. Havia encontrado uma grande amiga de infância que não via há uns doze anos.
Crescemos juntas. Brincamos, cantamos, dançamos. Trocamos conhecimentos e experiências. Doze anos de afastamento foram suficientes para que não tivéssemos mais assunto. Mas a afinidade ainda estava lá. Deparamo-nos cara a cara e nos reconhecemos de imediato. Sorrimos.
Havia tanto a lhe dizer mas as palavras não saíam. Queria contar-lhe toda a minha vida durante estes anos e saber também da sua. Mas a garganta travava, faltava jeito.
Trocamos beijinhos, uns cumprimentos. Mas não trocamos novas experiências e nem os novos telefones.
Despedimo-nos. Mas havia tanto a ser dito!
Sentia-me muito feliz por revê-la. Uma paz, uma alegria. Contudo, também uma angústia. Como eu queria ter conversado mais, estreitar novamente os laços, retornar àquela amizade.
Sei onde ela mora. Ela sabe onde eu moro. Doze minutos é a distância entre nossas casas, mas doze anos é a distância entre uma grande amizade e uma doce lembrança.
São tantos amigos que gostaria de rever. Tantas amizades que ficaram pelo caminho. É impressionante como a vida passa e como as pessoas passam pela nossa vida.
Havia realmente muito a ser dito! Pois a afinidade ainda estava lá! Sempre estará! Mesmo que a amizade não.